Texto escrito em dezembro de 2022
Kirby é um dos personagens mais bem conhecidos da Nintendo, e sua fama não lhe é atribuída à toa. Desde seu debut no Game Boy até nos jogos e mídias mais recentes, como em sua aparição na franquia Smash Bros, e em outras não tão recentes, como o seu anime (que eu adorava quando era criança, apesar de não lembrar de muita coisa hoje em dia), vê-se o meticuloso cuidado com os detalhes e o carinho deixado por seus criadores para transformar o personagem em um dos símbolos da cultura pop. Neste texto, pretendo trazer um pouco sobre a sua origem: Kirby's Dream Land, jogo do gênero plataforma, lançado em 1992.
Segundo o seu próprio criador e diretor, Masahiro Sakurai, o primeiro jogo da série Kirby foi idealizado para ser um porta de entrada acessível e convidativa à novos(as) jogadores(as). Sakurai observava, na época, uma tendência da indústria em dificultar jogos de ação com o objetivo de estender artificialmente a sua duração. Todavia, ele acreditava que esse tipo de escolha afastava uma parcela considerável do público, assim, ao apostar numa mecânica de jogo simples, porém divertida, ele entregou, em conjunto com sua equipe na Hal Laboratory, uma aventura curta, mas que esbanja originalidade e carisma.
Algo cômico ao analisar a criação de Kirby é que ele não era, digamos, o “produto final” para o protagonista do jogo, mas sim um simples boneco de teste, algo muito utilizado em estágios iniciais de desenvolvimento de jogos. Entretanto, Sakurai gostou da simplicidade do personagem, algo reforçado por Satoru Iwata, falecido programador e diretor da Nintendo, ao argumentar que um personagem que pudesse ser facilmente desenhado teria um forte apelo com o público. Outro detalhe é que, na mente de seu criador, Kirby sempre foi cor-de-rosa, mas isso não pôde ser colocado na tela arcaica do Game Boy; a forma que os jogadores orientais descobriram a verdadeira cor de Kirby é no manual japonês. Para os fãs de outros lugares do mundo, nem isso houve: os funcionários ocidentais da Nintendo, ao verem a cor branca do personagem no jogo, acharam que essa era realmente a sua cor, usando-a como padrão nos manuais, capas e produtos relacionados.
Retornando a aspectos do jogo em si, temos uma aventura baseada por trajetos simples, porém envolvendo inimigos dos mais variados, havendo sempre um chefe no final de cada fase e, às vezes, tendo um “mini-chefe” ao decorrer das mesmas. Para enfrentar os desafios, o jogador pode utilizar os poderes do Kirby, que consistem nas habilidades de poder sugar os inimigos e depois soltá-los na direção de outros e a de voar ininterruptamente, com a possibilidade de soltar ar nesta forma, uma outra alternativa para o combate. Nem tudo precisa ser complexo para ser bom, e Kirby's Dream Land tem essa filosofia: mesmo com poucos comandos, o jogo consegue ser muito divertido. Dou destaque para o level design, criativo e realmente acolhedor a novos jogadores, e os chefes, que são muito legais. Tem até um em que Kirby precisa lutar voando, remetendo a jogos de “navinha”, como Gradius e River Raid.
Além disso, ao decorrer do jogo, percebe-se um grande cuidado dos produtores com cada detalhe da experiência. Começando pela trilha sonora, temos um bom trabalho do artista Jun Ishikawa, que entrega músicas simples, mas, se lembrarmos que estamos num console tão antigo como o Game Boy original, percebemos o quão bem-feitas elas são para a época. Meu destaque é para a música tema da primeira fase, a música de luta contra chefes e a da luta contra o King Dedede que, aliás, é um ótimo chefe final. Entretanto, o ponto que mais me chamou a atenção foi a quantidade gigante de animações do jogo: há animações de abertura para cada uma das fases, sempre há a dancinha clássica do personagem ao derrotar um chefe e, caramba, se você pausar o jogo e demorar muito para voltar, Kirby se remexe de tédio. Pode ser algo simples e trivial para os padrões de hoje em dia, porém, insisto em lembrar que isso foi lançado para um console da década de 80 que nem cores suportava direito.
Após finalizar e ver os créditos, o jogador pode reiniciar e usar um comando específico na tela de início do jogo, tendo a possibilidade de jogá-lo numa dificuldade maior, que demandará uma precisão e cuidado mais apurados. Ao zerar nesse modo mais difícil, o jogador recebe um comando para poder acessar o sound testing, podendo ouvir suas músicas e sons com tranquilidade, e as configurações, podendo ajustar a dificuldade do jogo da forma que desejar, como diminuindo a barra de vida ou começando com menos vidas numa próxima gameplay.
No fim das contas, Sakurai e sua equipe entregam um jogo muito consistente e divertido, fato que vê nas vendas: mesmo sendo o primeiro jogo da franquia, Kirby’s Dream Land ainda é o mais vendido, com mais de 5 milhões de cópias no mundo todo, contando os relançamentos do jogo em outras plataformas. Foi uma grata surpresa confirmar a qualidade dos jogos do personagem, que como disse, conhecia por fora. Mesmo tendo games como meu hobby principal, o meu maior contato com Kirby, até agora, tinha sido em seu anime, Kirby: Right Back Ya!. Talvez seja o momento de revisitar o anime e ver se ele é tão bom como o jogo. Pesquisando sobre, vi que o próprio Sakurai colaborou muito para o desenvolvimento do mesmo, mostrando como ele é preocupado com suas criações. Para quem curte videogames e o trabalho do Sakurai, recomendo muito o canal dele no Youtube, Masahiro Sakurai On Creating Games, em que ele divulga seus conhecimentos como game designer, diretor e criador de diversos jogos e franquias. É isso pessoal, aproveitem o jogo, pois recomendo-o demais, especialmente para jogadores(as) iniciantes.
Fontes de pesquisa:
https://en.wikipedia.org/wiki/Kirby's_Dream_Landhttps://en.wikipedia.org/wiki/Masahiro_Sakurai
https://www.youtube.com/watch?v=PBRt2D2YN44
https://kirby.fandom.com/wiki/Kirby%27s_Dream_Land
https://nintendo.fandom.com/wiki/Kirby
https://shmuplations.com/kirbysadventure/
https://kirby.fandom.com/wiki/Kirby_Dance
https://en.wikipedia.org/wiki/Kirby:_Right_Back_at_Ya!